Vereadores do Rio ignoram perguntas de eleitores na internet
Renata Victal, Jornal do Brasil
RIO - No dia 17, o eleitor virtual Eduardo Justino, criado pela reportagem do JB, enviou um e-mail idêntico para cada um dos 50 vereadores do Rio. Ele pedia ajuda aos edis para um problema antigo, a exagerada altura dos degraus dos ônibus da cidade, o que faz o acesso de idosos nos veículos ser um verdadeiro martírio.
O mote da reclamação era a licitação que a prefeitura pretende fazer com 93 linhas. A expectativa era saber se os vereadores saberiam dizer se seria possível intervir para que os degraus dos novos veículos sejam mais baixos. Dos 50 vereadores, 12 responderam (veja a lista na página ao lado) e, deste total, apenas duas mensagens souberam dar explicações à solicitação.
A pastora Márcia Teixeira (PR) foi a única que pesquisou o assunto e enviou para o eleitor virtual uma lei de 1988 que já regulamenta a altura dos degraus dos ônibus. Pela lei, a distância do chão ao primeiro degrau deve ter 30 centímetros. O outro vereador que soube tratar o tema foi Carlo Caiado (DEM). Em sua resposta, ele disse que “este é o modelo que a prefeitura do Rio pretende para a nossa cidade” e informou que a licitação que a prefeitura vai fazer contempla este item.
A maioria dos outros 10 vereadores agradeceu o contato, se colocou à disposição ou reencaminhou o e-mail para a comissão de Transportes ou para o prefeito. A única ausência que poderia ser justificada é a do vereador Jerominho (PMDB). Ele está preso desde dezembro preso sob a acusação de formação de quadrilha armada, pelo suposto envolvimento com uma milícia conhecida como Liga da Justiça. De qualquer forma seu gabinete continua funcionando e o e-mail poderia ter sido respondido por algum assessor.
Decepção com os números
O resultado do teste realizado pelo JB foi considerado pífio por Antônio Carlos Alkmin dos Reis, doutor em Ciência Política do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ). Na avaliação dele, o fato de 48 vereadores terem ignorado o eleitor é muito preocupante.
– Um vereador trabalha com toda uma estrutura em um gabinete. Eles tiveram mais de 10 dias para responder e não o fizeram. Isso demonstra uma falha global, uma distorção no mandato dele. Este número é muito importante.
Segundo o Antônio Carlos, a falta de retorno chama atenção e é uma prova de que a lógica de muitos vereadores é a dos redutos eleitorais.
–Muitos mantêm centros de assistências sociais e só se preocupam em resolver problemas dos seus redutos, dos seus bairros – atesta o cientista político. – Cada vez mais os temas da cidade ficam nas mãos do prefeito, que tem maioria na Casa. O Legislativo passa boa parte do ano aprovando moções e projetos de pouca relevância e impacto para a cidade. O tema do e-mail, transporte coletivo, é um dos mais importantes da cidade. Nosso transporte urbano está caótico e os vereadores deveriam olhar para isso.
A pouca, para não dizer nula, cobrança popular dos atos dos vereadores é o motivo apontado por Ricardo Ismael, cientista político da PUC-Rio, para que os 48 vereadores não tenham respondido a mensagem eletrônica enviada pelo eleitor virtual.
– A Câmara do Rio não tem muita visibilidade na mídia – acredita Ricardo. – Pouco se sabe o que acontece ali dentro. A agenda dos vereadores tem pouca relevância. Um ou outro faz uma CPI e consegue mais destaque na imprensa, consegue ter uma marca forte.
O cientista político aponta ainda o enfraquecimento das questões de um único indivíduo frente aos problemas levantados por grupos organizados como, por exemplo, as associações de moradores.
– É difícil que uma única pessoa consiga retorno. Não se costuma dar ouvidos a uma reclamação individual. De forma geral, é mais fácil e eficaz protestar em grupo, como foi o caso do boicote ao IPTU, no início do ano, que teve como líderes os presidentes de associações de moradores e conseguiu mobilizar a atenção de vários parlamentares.
Pedido de voto
Dentre as 12 respostas enviadas, uma delas em especial chama atenção. É a mensagem da vereadora Patricia Amorim (PSDB), que pediu voto ao escrever “pode contar comigo neste pleito”. Apesar de a propaganda eleitoral estar proibida até 6 de julho, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro informou que, no caso do e-mail, por ser uma comunicação privada endereçada a uma única pessoa, não constitui irregularidade.
Com certeza. Foi desta forma direta e afirmativa, que a maior parte dos assessores parlamentares responderam à pergunta sobre candidatura reeleição que o JB fez, por telefone, na tarde de sexta-feira. Dos 50 vereadores, apenas Théo Silva (PMDB) disse que não vai disputar o pleito de outubro. No gabinete de Jerominho (PMDB), que está preso, ninguém soube responder. Mas os outros 48 já estão na contagem regressiva para dar início às suas campanhas, no próximo domingo.
Este ano, de acordo com as novas regras eleitorais, a Câmara ganhará mais um parlamentar. Além dessa novidade, outra razão promete mexer um pouco com a estabilidade de muitos vereadores. Há dois anos, Indio da Costa (DEM), Edson Santos (PT) e Brizola Neto (PDT) se tornaram deputados federais, e Fernando Gusmão (PCdoB) foi para a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Todos eram puxadores de votos para seus partidos. Índio da Costa, segundo mais votado, com 58.781 votos, forçará o prefeito Cesar Maia a dar um gás extra, colando sua imagem, ainda que desgastada, nos candidatos democratas.
O mesmo acontecerá com o PT, que viu irem embora os 44.585 votos de Edson Santos e precisa achar uma solução para emplacar novos assentos. O PCdoB, que não terá os 36.434 votos de Gusmão, precisará suar a camisa para tornar conhecido o suplente, Roberto Monteiro.
A vontade declarada de 48 entre 50 vereadores em disputar nova eleição não surpreendeu o cientista político Ricardo Ismael:
– A tentativa de reeleição nesses casos é comum – observa Ricardo. – Geralmente, os vereadores possuem vocação legislativa. Muitos têm mais de três mandatos, alguns até seis.
O uso da máquina administrativa conta. Quase todos aproveitam seus projetos aprovados, e até aqueles que não entraram em pauta, para se vender ao eleitor. Os do partido do prefeito podem ser mais beneficiados.
– É preciso ficar atento para perceber quem faz uso da máquina. Eles tem uma vantagem em relação a uma pessoa que nunca se candidatou, mas a competição é acirrada.
Disputa
A antropóloga Karina Kuschnir, professora do departamento de antropologia cultural do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, aposta na concorrência acirrada.
– São 4,5 milhões de eleitores para pulverizar, em média, mil candidatos –calcula Karina. – A diversidade é muito grande e faz da eleição de vereadores a mais competitiva de todo o sistema. São muitos votos perdidos.
Se a taxa de renovação for a mesma dos últimos anos, que variou entre 45% e 55%, ela acredita que 25 vereadores já possuem assento garantido. É o caso de políticos que conquistaram ou mesmo herdaram de seus pais territórios, centros sociais. Sobram, então, 26 vagas.
– De 15 mil a 50 mil votos é o suficiente para se eleger um vereador na cidade do Rio. É uma conseqüência do voto proporcional, que representa as minorias.
sábado, 28 de junho de 2008
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2 comentários:
isso não me deixa muito contente.
mas, legal ter reportagens sobre isso.
adorei a matéria.
beijos.
Vc precisa ler amanhã a desculpa esfarrapada que alguns deram para não ter respondido ao e-mail. Desrespeito total. Descaso.
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