domingo, 25 de maio de 2008

Quando...

... assisti ao filme "Um beijo roubado" escrevi sobre ele aqui. Recomendei. Algumas amigas viram e não gostaram. Reclamaram. Pois bem, pelo visto faltou poesia nos olhos delas. Pelo menos é o que conclui Martha Medeiros em sua crônica publicada hoje no Globo. Saca só:

"Eu recomendei, cerca de um mês atrás, a trilha sonora de My Blueberry Nights, que é excelente. Agora vi o filme, que no Brasil ganhou o nome de Um beijo Roubado. É sobre o que, esse filme? Sobre absolutamente nada, a não ser a vida, essa que passa pela nossa janela sem roteiro, sem diálogos geniais, simplesmente a vida que nos convida: vai ou fica?

Ela, a vida, essa que nos faz entrar em bares suspeitos, chorar de amor, espiar pelas frestas, pegar no sono em cima do balcão depois de beber demais. É noite escura e a gente sofre calado, deixa a conta pendurada, bebe de novo quando havia prometido parar, e morre - morre mesmo! - de ciúmes sem ter tido tempo de saber que éramos amados.

A vida e nossos vícios, nossas perdas, nossos encontros: quanto mais nos relacionamos com os outros, mais conhecemos a nós mesmos, e é uma boa surpresa descobrir que, afinal, gostamos de quem a gente é, e quando isso acontece fica mais fácil voltar ao nosso local de origem, onde tudo começou.

A vida e a espera por um telefonema, a vida e seus blefes, e nosso cansaço, e nossos sonhos, e a rotina e as trivialidades, e tudo aquilo que parecerá sem graça se ninguém colocar um pouco de poesia no olhar. A vida e suas pessoas belas, feias, fortes, fracas, normais. Todas atrás da chave: aquela que abrirá novas portas, velhas portas, a chave que nos fará ter o controle da situação - mas queremos mesmo ter o controle da situação? Não será responsabilidade demais? Deixar a chave nas mãos do destino é uma opção.

Os sinais fecham, os sinais abrem. Você segue adiante, você freia. A gente atravessa a rua e vai parar em outro mundo, basta dar os primeiros passos. Viaja para esquecer, viaja para descobrir, e alguém fica parado no mesmo lugar, aguardando (quando pequeno, sua mãe o ensinou que, ao se perder na multidão, não é bom ficar ziguezagueando, melhor manter-se parado no mesmo lugar, aí fica mais fácil ser encontrado). Muitos estão parados no mesmo lugar, torcendo para serem descobertos.

A vida como uma estrada sem rumo, a vida e seus sabores compartilhados, um beijo também é compartilhar um sabor.

Afinal, vou ou não vou falar sobre o filme? Contei-o de cabo a rabo. Vá com poesia no olhar."

Um comentário:

Professor Texto disse...

Ô Renata: obrigado por postar esse poema filmado da Martha. Estava lendo em casa e pensei em digitar para o meu blog. Vc fez o trabalho por mim.
Cuide-se. Sempre. Muito.