terça-feira, 22 de julho de 2008

Ta aí....


A íntegra da primeira matéria de um série que publicamos há 11 dias !!!!!!!!!
Um cabresto capaz de eleger até 25 vereadores
Poder de voto do crime organizado avança com as milícias Repórteres: Paula Máiran e Renata Victal
Dos 4,5 milhões de eleitores do município do Rio, 11% – ou cerca de 500 mil pessoas – vivem em territórios dominados pelo tráfico ou pelas milícias e formam os chamados currais eleitorais. Em mais de 600 favelas, os grupos criminosos impedem o livre trânsito de candidatos a prefeito e vereadores e ainda impõem seus próprios candidatos aos moradores, sob a ameaça de suas armas. Os números dos votos de cabresto impressionam: quase um terço do que foi necessário para manter Cesar Maia, em 2004, no Palácio da Cidade (1,7 milhão de votos); eleger pelo menos 25 dos 50 vereadores da cidade, com 20 mil votos para cada; ou, num cálculo mais apertado, até toda a Câmara. A situação é tão grave que o TRE já convocou a Polícia Federal para garantir a liberdade aos candidatos e eleitores.
O tráfico de drogas ainda controla a maioria das favelas do Rio, mas a milícia avança e pelo menos 100 dessas comunidades – a maior parte nas zonas Oeste e Norte – vivem sob seu jugo, segundo levantamento recente da Secretaria de Segurança Pública do Estado. Nas áreas de milícias, apenas os candidatos apoiados pelos bandos dominantes podem espalhar propaganda eleitoral e panfletar por ruas, vielas e praças. Aos demais, a entrada nas comunidades é impedida ou cerceada.
Na Zona Oeste, em lugares como a favela Carobinha, em Paciência, um vereador apoiado pelo deputado estadual Jorge Babu (PT) é o único que ousa pregar cartazes sem permissão prévia. Mas basta a sua equipe deixar a favela para que homens da milícia auto-intitulada Liga da Justiça arranquem tudo. Segundo denúncia encaminhada ao coordenador de fiscalização de propaganda do TRE, na Carobinha a vereadora Carminha Jerominho, ou Batgirl (PMDB), é imposta aos moradores sob a alegação de que milicianos têm acesso ao voto pessoal de cada eleitor. Batgirl é filha e sucessora política do vereador Jerominho (PMDB), preso sob a acusação de comandar milícias na Zona Oeste – entre elas a Carobinha.
No Complexo do Alemão, integrado por 12 comunidades na Penha, Ramos e Inhaúma, quem manda é o tráfico. Lá, segundo moradores que pedem anonimato, somente o vereador Jorginho da SOS (DEM) pode atuar. Tanto nos domínios das milícias quanto nos do tráfico, candidatos só conseguem entrar com aprovação prévia.
Na quarta-feira, Eduardo Paes (PMDB), por exemplo, panfletava na Pavuna quando, segundo um líder comunitário do Complexo da Penha, telefonou para um candidato local, de partido adversário, para pedir autorização para um corpo-a-corpo nas favelas do complexo - 10 ao todo, com 180 mil moradores. O pedido não foi concedido. Paes não retornou às ligações do JB.
Candidatos admitem o cerceamento.
Fernando Gabeira (PV-PSDB-PPS) revela que já foi informado de que terá dificuldades para circular na Zona Oeste em sua campanha para prefeito.
– Existe dificuldade em entrar nas áreas controladas pelas milícias – admite. – Não negocio com eles. Ainda não tive problemas porque não fui lá, mas sei que vou ter.
Alessandro Molon, do PT, concorda com o adversário: – Esse controle é criminoso, fere a soberania estadual. Repudio a hipótese de ter de pedir autorização para entrar em qualquer lugar.
Nas urnas
A interferência de traficantes e milicianos no resultado das urnas já foi constatada pelo cientista político da PUC Ricardo Ismael. Segundo ele, no último pleito, grupos de milicianos deram as cartas e conseguiram eleger representantes estaduais e federais.
– Apesar de o voto não ser distrital, a gente tem um recorte por áreas da cidade – explica Ismael. – Um grande problema é que o tráfico ou a milícia apoiam alguns candidatos. Isso já aconteceu em 2006 com deputados estaduais e federais.
O pesquisador esclarece que a solução passa pelo reforço na fiscalização da Justiça Eleitoral.
– É preciso fiscalizar para evitar que os grupos imponham seus candidatos e garantir o direito de ir e vir de todos – afirma. –Mas sei que não dá para garantir segurança aos fiscais em áreas conflagradas e isso facilita os currais eleitorais. O ideal seria que os eleitores pudessem votar livremente.
TRE convoca e Polícia Federal anuncia ajuda emergencial
O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) convocou a Polícia Federal para uma ação emergencial no Rio contra ao cerceamento à livre campanha eleitoral em nacos do território controlados por traficantes e por milicianos armados com fuzis e metralhadoras. Nenhum lugar do país enfrenta situação tão grave quanto o Rio, segundo o juiz Luiz Márcio Victor Alves Pereira, coordenador da fiscalização de propaganda no estado.
– A cidade está loteada por estes grupos. Temos recebido denúncias de casos de imposição de candidatos nessas regiões e já mobilizamos a Polícia Federal para uma ação imediata, além de um trabalho de inteligência para coibir esse crime eleitoral - explica o juiz.
O magitrado tem convocado lideranças das áreas citadas em denúncias para esclarecimentos. A candidata Carminha Jerominho já esteve com o juiz no TRE ao qual alegou não se identificar como Batgirl, alcunha pela qual foi citada em denúncia e pela qual se tornou conhecida na Zona Oeste, onde o seu pai, o vereador Jerominho é acusado de comandar a milícia.
De acordo com o juiz, os currais eleitorais já existiam, algo verificado em 2004, mas que, segundo ele, acentuou-se ainda mais desde as últimas eleições:
– A situação se agravou muito de 2006 para cá. E não pode haver esse tipo de cerceamento. É um problema de difícil solução, mas temos de agir para garantir a segurança de eleitores, candidatos e das próprias equipes de fiscalização, que sofrem limitações em sua atuação – afirma o magistrado.
Com dois meses e meio de campanha municipal pela frente, o TRE elabora uma campanha de conscientização dos moradores de favelas sobre os seus direitos eleitorais. (P.M)
Santa Marta: morro dividido entre oposição e situação
Em Botafogo, o morro Santa Marta vive uma situação incomum. A decisão do PMDB de lançar na última hora Eduardo Paes como candidato pegou de surpresa os moradores. Isso porque eles já tinham se comprometido a apoiar a comunista Jandira Feghali, explica o presidente da associação de moradores José Mário dos Santos, que também declara total e exclusivo apoio ao candidato a vereador Mario Del Rey.
–Há seis anos o Mário é o único político que aparece aqui – justifica Santos. –Ele continuou aparecendo mesmo depois de ter perdido a caneta. É o único candidato a vereador que entra aqui, que luta para resolver os nossos problemas. Ele nos pediu para apoiar a Jandira e a decisão do PMDB nos deixou dividido.
Segundo o líder comunitário, as obras que o governo estadual fez na favela, como o plano inclinado e a reforma de algumas casas, estimulam o voto em Paes:
–O Paes é o candidato do governador, que tem trabalhado pela gente, que fez várias obra, e também vamos pedir voto para ele.
Organização positiva
O coordenador de articulação político-institucional do Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam), François Bremaeker, não vê muito problema na escola de um candidato por determinada comunidade, desde que não seja pela imposição da força do tráfico ou de milícia
– A população nas favelas cresce mais nas áreas ricas e muitos políticos só aparecem nas comunidades na época eleitoral – constata Bremaeker. – Depois somem. Nada mais justo do que eles se organizarem para buscar um representante que não vai sumir depois. Que não vai almoçar ou tomar café com eles apenas durante a campanha. É válido apoiar alguém que possa lhes ajudar. (R.V)
Comunidades de portas fechadas na Penha e na Rocinha
No Complexo da Penha, dominado por uma facção do tráfico de drogas, lideranças de 10 comunidades assumem para si a decisão de apoiar a candidatura de apenas dois nomes para a Câmara Municipal e nenhum, pelo menos por enquanto, para prefeito.
– Sem autorização, nenhum candidato entra aqui – afirma o líder comunitário Edmundo Santos de Oliveira. – Estamos cansados desses políticos de Ipanema e do Leblon que só aparecem aqui em época de campanha para fazer promessas que nunca cumprem. Resolvemos apoiar somente um candidato a vereador que é cria daqui, o líder comunitário Luiz Cláudio dos Santos (PSDC) e a Teresa Bergher (PSDB), que mantém um centro social aqui onde as pessoas podem ir todo dia, cortar o cabelo, aplicar flúor, fazer fisioterapia.
Segundo Oliveira, Luiz Cláudio, de partido coligado ao do Crivella, trabalha pela comunidade e já conseguiu bolsas de estudo universitário de 70% de desconto para 400 jovens do complexo e 18 bolsas integrais para cursos profissionalizantes de radiologia e de enfermagem. Luiz Cláudio, orientado por advogados, optou por não falar ao JB. Tereza disse que o Centro Social Parque Proletário é de seu marido:
–Não sabia que eles só iriam votar em mim e em outro candidato. Fico feliz – comemora a candidata – Mas o centro social não é meu, é do meu marido Gerson, deputado. Aquela é uma região muito abandonada. Fiz várias emendas no orçamento pedindo melhorias, mas o prefeito nunca atendeu.
Mobilização
Na Rocinha, cansados de promessas vãs, os moradores se reuniram e escolheram, pela primeira vez, ter candidato próprio: o presidente da associação de moradores, Luiz Cláudio de Oliveira (PSDC).
– Na época de campanha todos os candidatos fazem questão de vir aqui, mas depois esquecem da gente – reclama Luiz Cláudio, ao lembrar que em 2004 a comunidade ajudou a eleger três vereadoras. – A Liliam Sá, a Andrea Gouvêa Vieira e a Patrícia Amorim foram as mais votadas pela comunidade – enumera Luiz Cláudio.
– Não quero ser leviano, nem mal interpretado, mas elas não foram a nossa voz. Queremos ter uma pessoa daqui lá dentro – afirma o representante eleito com 2.700 votos, em processo de escolha um tanto confuso que durou 10 dias. Luiz Cláudio diz que não é o único candidato da favela, território livre para campanhas de todos os candidatos, segundo ele.
–O Estado garante a todos o direito de ir e vir. Aqui a gente não vai adotar restrição à entrada de nenhum candidato. A Rocinha é aberta.

Um comentário:

Anônimo disse...

Renata,

Gotei do teu blog!



Mude,
mas comece devagar,
porque a direção é mais importante que a velocidade.
(...)
Agradeço pela publicação do meu poema MUDE aqui no blog, em 26/04/2008.

Pena que você disse ser "de Clarice Lispector".

Não é.

Detalhes em http://mude.blogspot.com

O livro "Mude" acaba de ser lançado pela Pandabooks, com prefácio de Antonio Abujamra - e está à venda nas grandes livrarias.

Se puder, veja também o vídeo Mude.

Quando possível, favor corrigir a autoria.

Abraços, flores, estrelas...